A expressão “bater escanteio e correr para a área para cabecear”, pelo menos fora das quadras, bem que poderia ser atribuída aos supervisores. Função de pouca visibilidade para o público de fora, internamente tem uma importância essencial nas comissões técnicas. E, curiosamente, o valor do trabalho tem pouco a ver com o que ocorre em quadra, mas principalmente nos momentos anteriores e posteriores aos jogos. Para agravar as coisas, a pandemia incutiu uma carga de trabalho extra a esses profissionais.
Elton é o supervisor do Atlântico
“Aumentou assustadoramente a carga de trabalho, visto a implantação dos protocolos de segurança, depois a aquisição dos materiais de trabalho e a fiscalização para que os cuidados sejam cumpridos”, relata Elton Dalla Vecchia, supervisor do Atlântico. Colega de função, André Siqueira, do Joinville completa: “A principal dificuldade é a questão do planejamento, com todas as incertezas do momento temos que ir trabalhando em microciclos e isso nos tira a organização a longo prazo.” Para o supervisor do Corinthians, Lorenzo Engel Fontana, o desafio atual é enorme: “A questão central passa por conscientizar a todos do staff de trabalho da importância dos cuidados individuais e coletivos, cuidando-nos e apoiando-nos física e mentalmente.”
É muito comum o supervisor ser responsável por tarefas inimagináveis, pois nem todos os clubes desfrutam de estrutura suficiente para ter, principalmente em viagens, alguém responsável especificamente para cada setor. A logística, sem dúvida, é a que mais exige do cargo mais procurado pelos colegas. Costumeiramente jogadores, treinadores, dirigentes, colegas de vestiário e até imprensa procuram o supervisor, cada um deles com uma pergunta de interesse específico.
“O supervisor é um solucionador de problemas. Acredito que lidar com muitas personalidades diferentes é a maior dificuldade na gestão de pessoas. A maior satisfação é quando o planejado sai da maneira que foi organizado”, conta André Siqueira. O check list de alguém que trabalha nessa área parece interminável quando a responsabilidade recai em um ombro só. Na prancheta ou no celular, as anotações envolvem: transporte, alimentação, hospedagem, questões administrativas, pedidos de ordem pessoal, calendário, regulamento de competições, temas que a todo o momento são motivo para questionamentos.
Lorenzo é o supervisor do Corinthians
“Tivemos que ir em busca de conhecimento na área de humanas para lidar com grupo heterogêneo de comportamentos. A recompensa é poder proporcionar trabalho a trinta famílias que sobrevivem do futsal”, conta Elton, que se sente recompensado quando percebe a contribuição para a formação dos seres humanos com quem trabalha no Atlântico. Na mesma toada, seu colega de Corinthians estende o compromisso: “Potencializar a escuta ativa e despertar o processo de autoconsciência em cada um de nós que fazemos parte da organização é gratificante, na medida em que esses valores fazem toda a diferença no ambiente de trabalho, que, afinal, é nosso bem mais valioso”, afirma Lorenzo.
A LNF ainda não começou. Enquanto não chega o momento em que haverá condições sanitárias para que todos os envolvidos nos jogos estejam em segurança, um calendário hoje mais aliviado é o cenário que se cria. Nada que assuste quem está acostumado com o ritmo frenético de trabalho.
André, supervisor do Joinville, ao lado do treinador Daniel
Confira abaixo a reação de cada um dos supervisores quando a pergunta final a eles foi: Em que momento o supervisor deixa de pensar em calendário, viagem, hotel e consegue pensar na sua vida pessoal?
Elton Dalla Vecchia (Atlântico)
“Nunca! Tu tiras férias e passa horas no telefone. É o período de contratação de atletas, definição de moradia para quem chega ou sai, periodização de treinos, planejamento de calendário, alimentação, transporte. Estamos sempre ligados.”
André Siqueira (Joinville)
“Quase nunca (risos). Acho que quando acaba uma logística de viagem você começa a pensar na seguinte, quase nunca temos tempo para a vida pessoal.”
Lorenzo Engel Fontana (Corinthians)
“Acho que se pararmos para refletir a fundo sobre essa questão buscaremos novos ares. Brincadeiras à parte, aqueles que lidam com a gestão desportiva são apaixonados pelo esporte e pelo trabalho. Já são 25 anos dentro do Futsal de alto rendimento, demanda tempo e energia, não há dia nem horário, mas o sentimento nos move para seguirmos em frente.”
Uma das incertezas no mundo é como ele será pós pandemia. Uma coisa, no entanto, é certa: ainda que amenize, pelo menos mentalmente, a pressão a que estão submetidos os supervisores de clubes seguirá, pois, as demandas nunca cessam. Bater escanteio e correr para a área, ainda não foi preciso. Mas é melhor não perguntar a um cara desses se ele não é capaz de fazer isso, ainda mais no futsal que a área é pertinho.
Por João Paulo Fontoura / LNF